(Animação de Pixel Art) Três toupeiras saindo da terra. A do meio carrega um moicano e óculos escuros, a da esquerda com moicano e a da direita de cabelo raspado e tapa olho.

Sim, terminei um quadrinho de 389 páginas. E como sempre, minhas jornadas quadrinísticas começam ao decidir qual será minha próxima leitura do acervo da queridíssima Biblioteca Comunitária Vila Castilho, e dentre as várias opções de quadrinhos, decidi pegar um dos maiores e mais pesados… Fui direto para Notas Sobre Gaza de Joe Sacco, no qual já vinha flertando desde minhas últimas leituras.

mão segurando um quadrinho grande, na capa está escrito: Joe Sacco   Notas Sobre Gaza    ilustração de 8 homens palestinos com as mãos para cima fazendo rendição ao lado de vários sapatos perdidos.

Levou em torno de 1 mês e meio para terminá-lo, sendo este, um quadrinho que me levou às lágrimas. É muito triste ver toda a injustiça e humilhação que são e foram direcionadas à um povo.

Foto de trecho do quadrinho onde uma retroescavadeira derruba casas em Rafah. É possível ver as falas de uma Palestina -Nós já nos mudamos daqui, mas acabamos voltando, várias vezes.   -Se tivéssemos dinheiro, já teríamos alugado outra casa há muito tempo.   -O que você faria no meu lugar?

Pessoas de Gaza tendo suas casas demolidas por israel.

Joe Sacco é jornalista e quadrinista, ele se desenha como o personagem principal da história e narra os fatos que acontecem durante a sua vivência no local. E neste quadrinho, ele visita a faixa de gaza, na Cidade de Gaza, Khan Yunis e Rafah.

Foto de trecho do quadrinho onde uma pessoa branca de cabelo curto, casaco preto, mochila e bolsa olha para o horizonte e de fundo parece ter umas torres de vigilância, e arames enfarpados com uma bandeira de israel. Tem um comentário do narrador com os dizeres: O fio de esperança se regenera! Foto de trecho do quadrinho onde é apresentado um mapa detalhado da faixa de gaza. É possível ver duas setas vermelhas apontadas para duas cidades no sul da faixa, Khan Younis e no extremo sul Rafah. É possível ver um quadrado com a seguinte informação: Esta é a Faixa de Gaza, com seus 40 km de comprimento e não mais que 12 km de largura, um dos lugares mais densamente povoados do planeta. Entre 2002 e 2003, quando passei por lá, 1 milhão e 300 mil palestinos ocupavam cerca de 70% de seu território. O restante estava sob o domínio de 7.500 colonos judeus, que estabeleceram seus enclaves depois que Israel invadiu Gaza, em 1967, e dos soldados das FDI que os protegem.

A história toda se dá no início dos anos 2000, no meio da Segunda Intifada, uma revolta popular Palestina que ocorre entre 2000 e 2005~2006. É possível ver no quadrinho que as coisas estão bem cabulosas, em meio a mortes, destruição de casas e hipervigilancia do estado de israel.

Foto de trecho do quadrinho onde um homem fala -Muitos homens já foram mártirizados atacando essas porras dessas torres. Em seguida enquanto um carro está parado na frente da torre de vigilância e duas falas do narrador: -Disseram que esta era a torre que os homens haviam atacado. -A não ser por alguns destroços do carro que explodiu, não sobrou muito para contar a história. Em seguida é possível ver um carro destroçado. E bem grande no quadro inteiro uma torre de vigilância com câmeras apontadas para os carros que vão passar pelo caminho.

O protagonista está acompanhado de amigos palestinos, e o principal deles é Abed, seu guia no mundo palestino. Abed é culto e educado, e faz parte de um clã familiar respeitado. Diz no quadrinho que ele levou um tiro na perna ao jogar uma pedra em um soldado israelense aos 13 ou 14 anos de idade durante a Primeira Intifada no fim dos anos 80. Abed guia Joe até o fim de sua pesquisa.

Foto de trecho do quadrinho onde o narrador diz: -Ás vezes ele é menos filosófico. Em seguida, um homem senta com seu cigarro aceso em uma cadeira em meio a escuridão e diz: -Preciso beber alguma coisa. -Para esquecer de tudo. -Ficar bêbado.

Apesar de estarem vivendo uma época de muita luta pela sobrevivência, a história gira em torno de uma pesquisa para esclarecer fatos que ocorreram em 1956, que tinham informações duvidosas e que só apareciam em números e notas de rodapé, desumanizando o conflito.

O objetivo das visitas é realizar uma série de entrevistas com os moradores para tentar reconstruir o que realmente se passou nas cidades de Khan Younis e Rafah em 1956, após soldados israelenses matarem a sangue frio os homens em idade militar nessas cidades.

Foto de trecho do quadrinho com pessoas sentadas ao redor no chão, com café e cinzeiro, onde o entrevistado, um idoso é ouvido. O narrador diz: -Muitas vezes nós acabamos em um pequeno cômodo diante de toda a família, mas, depois de Abed fazer o ritual de saudações, nós vamos direto ao assunto. -Gostaríamos que nos contasse sobre um dia de 1956 que ficou conhecido por aqui como O Dia da Escola. -O senhor pode nos contar o que aconteceu? E o idoso diz: - É muito difícil falar sobre isso. Foto de trecho do quadrinho com 3 quadros do idoso, indo às lágrimas e enxugando o rosto com as mãos.

A crise do Canal de Suez: 27 de Outubro – 07 de Novembro de 1956

O quadrinho explica a crise que se deu em 1956, e vou resumir aqui. O egito na época tinha um projeto nacionalista islã e fez amizade com a união soviética enquanto protegia a palestina (de maneira mal segundo os palestinos).

A grã bretanha e a frança não estavam contentes com o egito pois este nacionalizou o canal de suez, que é uma das rotas importantes para os países que antes colonizavam e eram donos do canal através de empresas. Então, se organizaram com israel, que estava doido para guerrear e tomar de vez a palestina e parte do egito.

Israel chegou a tomar as cidades da faixa de gaza e parte da península do sinai que faz parte do egito, mas foram barrados pelos EUA e União Soviética que organizaram o fim do conflito, que foi rápido. Porém, durou o suficiente para os soldados de israel realizarem o extermínio contra uma população totalmente rendida em gaza.

Se possível leia o quadrinho!

Vale a pena sair das notas de rodapé e conhecer a realidade do genocídio interminável que ocorre por lá. Joe Sacco é um ótimo desenhista e quadrinista. É possível com o quadrinho entender e vivenciar o que as pessoas estão passando por aquele território.

O quadrinho se encontra disponível para todes na Biblioteca Comunitária da Vila Castilho que está aberta aos sábados das 15 até as 19 horas na cidade de Pelotas - RS: conheça mais sobre o espaço em https://www.instagram.com/biblioteca_castilho/

AVISO:O quadrinho possuí cenas de violência e sangue, e não é destinado à crianças e pré-adolescentes, e pessoas sensíveis ao tema e à violência.