O verme das BETS
Ahh 2018, mal sabíamos o verme que teria seus ovos se chocando neste ano, quando o governo Temer aprovou as BETS.
E então passaram-se os anos, e temos BET em tudo quanto é lado, dando nome até para as principais ligas profissionais de futebol brasileiras.
Quem quer ser campeão de uma liga com esse nome? Obviamente esse nome será ignorado no futuro, o que conta é ser campeão nacional.
Preste atenção no protesto do Marlon, e também na quantidade de BETs no vidro de patrocinadores do campeonato:
“Os árbitros são influenciáveis, são tendenciosos”, esse é o ódio do profissional que foi roubado em uma partida, e não digo isso por clubismo, pois muitos sabem a minha torcida, mas foi um consenso nacional de especialistas em arbitragem o roubo que foi essa partida.
E é óbvio, o futebol como um todo está se vendendo, esse lance contra o Grêmio é só um pequeno sintoma. Em um futuro pode nem mais existir a emoção, estratégias e dribles improvisados do esporte, mas sim BETs e SAFs e seu grande mercado especulativo de resultados.
Chegamos ao ponto de TODAS as transmissões terem anúncios das ODDS (quanto vale caso um time ganhe ou perca), onde narradores bobalhões ficam incentivando as pessoas a jogarem nestas merdas. Lembro de quando morava em um hostel, e eu e outra pessoa notamos o quanto outras duas pessoas que também acompanhavam o jogo só olhavam a tela do celular prestando atenção nas bets e quase nada nos lances da partida, e os jogos eram bons, pique Libertadores. E fizemos piada do fato.
O verme das SAFs
E depois de 2018 e adesão do verme das bets, mais um verme começa ter seus ovos chocados no futebol, desta vez em 2021, com a Lei 14.193 para a SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Onde empresas estão comprando o poder de decidir e possuir um clube por inteiro.
Lembro de antes das SAFs surgirem clubes empresas como o RedBull Bragantino, onde a empresa, não contente em adquirir o clube, quis mudar o NOME do clube e a identidade do time para esta marca de água com açúcar ruim.
Não sei o que é pior, um clube ser comprado por uma empresa ao ponto de mudar o nome, e diminuir a participação dos sócios, trabalhadores e torcedores nas decisões. Ou vir um bando de investidores anônimos, manter a identidade e tomar a posse das decisões do clube. E algo bem comum nestas SAFs é a podridão de onde vem o dinheiro, porque se fosse algo digno, não seria anônimo. Já ouviu as notícias recentes da SAF do Atlético Mineiro?
“Segundo reportagem do jornalista Rodrigo Capelo, publicada nesta sexta-feira, o aporte feito por Vorcaro, para comprar ações da Galo Holding, está sob suspeita de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das principais organizações criminosas do país.” Fonte: https://ge.globo.com/futebol/times/atletico-mg/noticia/2025/10/17...
Também tem o caso do Figueirense, que foi destruído e enrolado por empresários que queriam o poder dentro do clube, demonstra o quanto estão cagando para de onde vem o dinheiro dos investimentos:
“O Figueirense estava no meio da temporada quando as reuniões com a Elephant começaram a acontecer. Na época, o nome do grupo de investidores ainda não era de conhecimento público, inclusive, os próprios conselheiros do clube desconheciam a origem da empresa.
À época, João Henrique Blasi, então presidente do comitê de análise de proposta do Figueirense, disse ao ge desconhecer os investidores, mas que "com certeza irão trazer para o clube um considerável avanço empresarial”.” Fonte: https://ge.globo.com/sc/futebol/times/figueirense/noticia/2024/09/11/...
Nessa época aí nem era sociedade anônima do futebol, era só um grupo de empresários querendo se apossar do clube. E sempre vem a mesma desculpa, a ilusão de que é a única solução…
Vamos pegar agora o caso do clube que recentemente virou SAF, o Brasil de Pelotas. É de conhecimento geral aqui na cidade de Pelotas, de onde eu escrevo, que o clube foi prejudicado com gestões corruptas, inclusive, enquanto está ocorrendo investigações sobre o caso iniciaram um processo de transformar o clube em SAF.
Imagina, uma torcida que vê o clube na série B do Gauchão, sendo eliminado de uma série D em 2025, conseguindo voltar pra série D em 2026 por ranking da CBF, e mesmo assim, a votação de aprovação da SAF teve “193 votos a favor e somente um contrário, com cinco abstenções” Fonte: https://ge.globo.com/rs/futebol/times/brasil-de-pelotas/noticia/2025/10/14/..., também da mesma reportagem, “O projeto foi apresentado pelo Consórcio Xavante, composto pelo ex-jogador Emerson Ferreira da Rosa e as empresas VEX Capital e Greenfield Partners.” e ainda: “A proposta prevê a aquisição de 90% do capital da futura SAF, e 10% mantidos ao clube associativo, com direito a veto sobre o patrimônio imaterial — nome, hino, cores, escudo e sede em Pelotas.”
O clube foi tão fudido e sucateado (com dívida de 21,1 milhões) que é unânime a entrega do clube para essa sociedade anônima, para não dizer que não houve protesto, houveram pichações no estádio do clube que trago em primeira mão para o blógue:
Ninguém assinou o protesto, por motivos óbvios de ilegalidade. Provavelmente foi alguém que se ligou que o clube mais popular da cidade estava sendo comprado por uma empresa de israel, em pleno genocídio aberto e intensificado do povo palestino. Sim existe uma organização Xavante Antifascista, mas infelizmente os companheiros de lá não estão mais ativos quanto estavam na época do bostonaro, onde estourou uma onda de organizações de torcidas de futebol antifas, sendo que algumas ainda permanecem ativas.
Eu sinto muito pelo Xavante, a torcida do clube é espetacular, e me ocorreu um ódio em cima do clube, ao ponto de ter repulsa por um tempo, mas agora já amadureci que a torcida e a história do clube são muito mais gigantes do que qualquer SAF. E infelizmente é sua torcida quem mais pode sofrer com esse projeto, tendo seu estádio gourmetizado, aumentando os preços, demissões de quem antes vendia alimentos e bebidas acessíveis, e tendo que passar por biometrias e outras formas de controle social dentro do estádio. E isso também me afeta, pois queria acompanhar mais os jogos do clube, do qual inclusive tenho uma camisa.
Vou deixar aqui o manifesto do Xavantes Antifascistas que se posicionaram assertivamente na época em que as SAFs davam seus primeiros passos em 2019 com apoio do bolsolixo:
“Neste 9 de Agosto, Bolsonaro aprovou a lei PL 5516/2019 que permite a transformação de clubes de futebol em clubes-empresa, para que estes tornem-se Sociedades Anônimas do Futebol (SAF), lançando assim dívidas e ações na bolsa de valores para os clubes de futebol.
A aprovação desta lei aumenta ainda mais o processo de elitização, jogando os clubes nas mãos de grandes empresas que passarão a controlar o esporte, permitindo usá-los e acordo com a sua vontade, visando somente o lucro e descartando a torcida e a própria entidade para um segundo plano.
A transformação dos clubes em SAFs vai permitir que empresas tenham controle sobre o nome, a cor, a marca e direitos (como no caso do Red Bull Bragantino), além de ficarem isentas de obrigações trabalhistas. O projeto irá satisfazer atividades da empresa detentora das ações em detrimento aos anseios da torcida, alavancando projetos de elitização do clube e transformações profundas sem necessidade de passar por conselhos e menos ainda pela aprovação dos(as) torcedores(as).
Mesmo as organizadas, costumeiramente odiadas pelos cartolas, encontrarão desta maneira ainda mais dificuldades na relação cotidiana com o clube, refletindo em acesso aos ingressos, na organização dos ônibus para caravanas, etc.
Ao visar o retorno financeiro imediato para as empresas acionistas, se exclui ainda mais a classe trabalhadora dos estádios, uma vez que os mais pobres não garantem o lucro desejado. Vale ressaltar que isso já acontece em menor escala com os projetos de arenas modernas, com ingressos e programas de sócio torcedor que já oferecem preços bastante elevados, etc.
Uma vez que a lei já se encontra sancionada, não temos mais chance de impedir que ela entre em vigor, porém com nossa organização e luta podemos fazer com que ela não seja colocada em prática pelos clubes.
Com esta lei caminhamos a passos largos em direção a um futebol exclusivo para os mais ricos, cada vez mais distante do povão que sempre o abraçou.
É fácil observar que o projeto reflete políticas que vivemos atualmente no Brasil, profundamente elitistas, neoliberais e que pretendem tirar do povo todas suas conquistas, direitos e garantias, em uma espécie de "limpeza social" e marginalização do povo pobre em nome do lucro de grandes empresários, precarizando deste forma a vida dos trabalhadores e trabalhadoras e de todo povo desfavorecido da nossa sociedade.
O futebol, como fenômeno de massas e totalmente enraizado na cultura do nosso país, é mais uma manifestação popular reprimida no intuito de tornar-se entretenimento para ricos. É preciso portanto somar forças e ecoar nossas vozes juntas para que possamos impedir mais esse retrocesso!
#contraofutebolmoderno
#clubesimempresanão
#ForaBolsonaro"
Link da postagem: https://www.instagram.com/p/CSaONS-guuw/
É triste, mas senti muita pouca contestação da torcida, mas estamos sempre de olho, as ruas falam, e o povo cobra. Enquanto vendem que as SAFs são a única solução, não são, o futebol profissional pode estar morto e engolido pelo sistema, mas é possível resistir, é possível se reestruturar sem elas, com torcidas apaixonadas, planejamento, jogando bola, disputando regionalmente. Todo mundo quer o topo a todo custo, mas tem como ter um time forte e bem gerido, nem que seja com a raça do bairro, que já eliminou e bateu de frente com times milionários.
E outra, times como o Xavante, movimentam a cidade com a paixão da torcida, é incrível notar a presença da torcida no enfrentamento contra o São Gabriel, time do interior do interior, com uma baita festa em casa. Empresas sentem o cheiro disso. Elas precisam mais dos clubes para lucrar, do que os clubes que precisam delas.
Existe também o underground, existe a várzea, e espaços que podemos transitar e participar. Podemos fundar nossas próprias agremiações, quebrar barreiras de gênero com times não binários, e construir um espaço de apoio mútuo e luta social enquanto praticamos uma atividade física, mental e social foda.
